
Será que no final das contas viver sem amor para que vivamos
em harmonia é tão ruim assim? O que estaríamos dispostos a sacrificar pela vida
em harmonia?
Essa seria a maior reflexão do filme O doador de memórias (The
Giver). No entanto, antes mesmo de aprofundarmos essas ideias, é importante
ressaltar que o filme é baseado na obra de Lois
Lowry, assim, em se tratando de uma tradução cinematográfica não ficaremos
presos à comparação de uma obra com a outra, até mesmo porque as reflexões
feitas aqui partem de um grupo de espectadores que vão além da função de apenas
assistir, gostar ou desgostar.
The Giver narra uma
sociedade futurista na qual tudo é minunciosamente controlado, não há crimes,
pobreza, fome, desigualdade, doenças ou dor, assim como também não há nenhuma
forma de sentimento genuína como o amor e a felicidade. A sociedade é designada
a viver sempre o presente, pois o passado lhes foram apagados da memória. Nessa
sociedade, os jovens quando estão indo dos 11 anos para os 12 anos, passam por
uma cerimônia de Atribuição em que são direcionados para as atividades as quais
possuem mais habilidades.
O protagonista dessa narrativa é um jovem chamado Jonas
(Brenton Thwaites), que durante a cerimônia de Atribuição é o escolhido para
ser o próximo receptor das memórias, ou seja, aquele que receberá todas as
memórias da humanidade. A partir desse momento, Jonas passa por um treinamento em
que começa a receber as memórias sobre as cores, alegrias, músicas e amor. Em
contra partida, recebe também memórias como a dor, a guerra e a morte.
O filme, embora tenha grandes ideias
e motive uma certa reflexão, falha, pois o roteiro é mal construído, é claro
que ao se pensar em qualquer tradução muitas coisas serão perdidas. No entanto,
o roteirista (Michael Mitnick) não
conseguiu manter uma narrativa clara e envolvente, parece que tentaram colocar
tudo em um tempo muito curto, os conflitos ficam mal desenvolvidos e consequentemente
mal resolvidos, as soluções apresentam-se de forma muito rápida e sem emoção. A
perda de emoção do filme é resultado também do mal desempenho dos atores,
infelizmente, mesmo tendo a brilhante Meryl Streep como Chefe Elder, o Mise en scène dos personagens torna-se robótico
e sem muita motivação ―salvo a Meryl, claro―.
Não pretendemos discutir toda parte técnica,
porém gostaríamos de fazer algumas ressalvas, a trilha sonora não é a pior
parte do filme, mas, como já comentado, pensamos que ao se tratar de um filme
que fala sobre a humanidade, faltou um pouco de sensibilidade e de presença. O
diretor (Phillip Noyce) poderia ter tornado o filme
mais agradável, mais dinâmico e mais emocionante, com a escolha dos planos e
sequências, mas não o fez... Há cenas que ficariam melhores com plongée, mas o
diretor optou contra-plongée.
Embora todas essas ressalvas, o
filme também apresenta aspectos positivos. A relação do preto e branco com as
outras cores transmite ao espectador a divisão entre a monotonia versus a diversidade, o padrão versus a inovação. Além disso, o filme propõe questões que sempre
precisam ser pensadas e questionadas, afinal como diz José Saramago: “Tudo no mundo está dando respostas, o que demora é o
tempo das perguntas”. Enfim,
The Giver não é um filme ruim mas sim
um filme mal trabalhado que vale a pena ser visto.
Não deixe de comentar, caso
discorde, fique à vontade para argumentar.
Para
aqueles que ficaram curiosos, eis o trailer:
Por: Fabio Alves e Viviane Freitas