A ditadura da Alemanha deixou de ser possível? Em pleno seculo XXI seria possível uma ditadura entre nós? A Alemanha nazista poderia voltar a existir? Difícil acreditar nisso não é mesmo? Depois de tudo que os alemães e o mundo todo passou, depois de testemunharmos uma das maiores atrocidades já cometidas por uma ideologia absurda, seria difícil imaginar que isso poderia vir a ocorrer novamente.
É o que uma turma de estudantes alemães alegam para seu professor quando ele faz essas perguntas. Dada as respostas, o professor decide fazer um experimento com seus alunos. Como foi possível a ditadura de Hitler? E mais: ela poderia se repetir hoje em dia?
O filme Die Welle (A Onda) é inspirado no livro "The Wave" do autor americano Todd Strasser e no experimento social da Terceira Onda em uma escola de ensino médio em Palo Alto, na Califórnia. Durante uma semana de projeto da escola, o professor Rainer Wenger (Jürgen Vogel) é forçado a ensinar autocracia, mesmo depois de ter pedido para ficar com as aulas de anarquia. A Onda vai abordar uma condição em classe que vai transtornar a vida de seus alunos e criar um assombro na comunidade local.
Durante esse projeto ele começa exigindo que todos os alunos se refiram a ele como "Herr Wenger" (Senhor Wenger). A classe elege um líder (o professor) e ele começa a incutir nos alunos (apenas como exemplo) as virtudes e práticas que acompanham uma autocracia "Força através da disciplina" e "Trabalho como um só". Os alunos logo tornam-se obcecados com isso. Logo, o que era uma experiência de sala de aula simples cresce a uma entidade social.
Rainer então sugere que todos do grupo devem vestir uma camisa branca e calças jeans, para que não haja mais distinções entre eles. Karo (Jennifer Ulrich) que ao longo da história será uma das alunas que lutam contra o movimento, vem à aula usando uma camiseta vermelha, e descobre ser a única a não aderir ao uniforme. Outro aluno, Tim (Frederick Lau) é um dos que mais se envolve com a ideia, pois pela primeira vez ele se sente aceito em um grupo. Ele queima todas as suas roupas de marca e mais tarde aparece na casa de Rainer, oferecendo-se para ser seu guarda-costas.
Herr Wenger atrai seus alunos desavisados a um senso de fascismo, dá um
poderoso desempenho como professor idealista que não tem conhecimento da influência que ele tem sobre os outros. Nós mesmo nos sentimos arrastados para o filme da mesma forma que os alunos de Rainer estavam sendo atraídos para seu "experimento". O drama se desenrola de forma relativamente lenta no início, mas vai ganhando ímpeto e conseqüências. Há também um retrato comovente de algumas das tensões produzidas dentro de alguns dos pares românticos, bem como a extrema angústia causada em um aluno, Marco (Max Riemelt) por sua suscetibilidade.
O experimento escolar aos poucos começa a se parecer com o passado da Alemanha, a ironia mordaz deste filme é que no início das aulas de autocracia, Wenger tocou no assunto do reinado de Hitler, e os alunos quase instintivamente cuspiram respostas sobre como a Alemanha nunca cairia nessa armadilha novamente. A situação acabou saindo do controle, o que de início era apenas uma brincadeira aparentemente inocente, ganhou traços de seriedade e afetou profundamente a vida daquelas pessoas. O professor avesso ao que acontecia fora da sala de aula, sua ânsia em ser encarecido, seu ego diante os outros professores o cegaram e ele não se deu conta disso.
É um filme impactante, nos mostra como até uma grande massa pode ser manipulada, pode ser moldada e explorada. A alma do fascismo estava apoiada na sedução e na psicologia, e por isso muitas pessoas acabaram envolvidas no regime
totalitário. Esse é o tema central do filme. Com a grande atuação de seu jovem elenco, o filme canoniza as qualidades de um regime ditador, mas também nos leva a suas piores consequências.
Em sua trajetória, Die Welle ganhou dois prêmios e foi indicado a outros seis. Uma coisa deve ser deixada clara, trata-se de um filme alemão, e com estilo pois Die Welle é um exemplo desse novíssimo cinema, que prima historias autenticas, temáticas
contemporâneas e tratadas de forma crítica. O cinema alemão é um dos melhores do
mercado, o diretor Dennis Gansel nos demostra isso com esmero.