sábado, 5 de setembro de 2015

Festa no Céu/The Book of Life (2014)
Unknown15:24 0 comentários

Fazer filme para crianças é sempre uma tarefa difícil e trabalhosa, pois, por um lado, as animações nunca são totalmente infantis, afinal, sempre apresentam uma crítica aos adultos e em contra ponto articulam-se de tal modo que conseguem não só prender a atenção das crianças mas passar – de maneira educativa- valiosas lições.  Assim, não diferente dessa contraposição, chega aos cinemas a mais nova animação: Festa no Céu (The Book of Life)
Com um enredo voltado especialmente ao público infantil, Jorge R. Gutierrez consegue transmitir com suavidade a morte, explorando perfeitamente a cultura mexicana, mais especificamente O Dia de Los Muertos, que se refere a festividade dedicada aos mortos para que eles sejam sempre lembrados, e é com base nessa crença que toda a trama é desenvolvida.
Xibalba, governante da terra dos esquecidos, cansado da vida que leva propõem uma aposta a La Muerte, governante da terra dos lembrados, na qual quem ganhar fica com o direito de governar a Terra dos Lembrados, um lugar cheio de festas – e churros – diariamente. Tentando entrar num consenso sobre os critérios da aposta, Xibalba e La Muerte veem dois amigos, Manolo, o artista, e Joaquim, o herói, tentando conquistar a bela e carismática Maria, apesar de os três ainda serem crianças, os governantes do mundo dos mortos decidem apostar em qual dos dois jovenzinhos casaria com Maria.
Com uma animação impecável, fazendo um bom uso do 3D e todas as cores que extravagantes que o México permite, o visual do filme enche nossos olhos e faz com que admiremos o trabalho de produção. Trabalhando com três formas distintas de animação – a primeira para mundo “real”; a segunda representando histórias secundárias do Livro da Vida; e a terceira para a história principal, e dentro dessa, ainda, há contrastes diferentes para distinguir três mundos narrados.
A trilha sonora ―em geral― também não deixa a desejar, criando todo o clima necessário para a animação, desde o gostinho da infância dos pequenos amantes até o sombrio encontro na terra dos esquecidos.
O filme contém cenas lindas que evocam a beleza da cultura mexicana. Assim, uma das cenas mais marcantes do filme é a batalha entre todos os touros mortos pelos Sanchez contra o Manolo. Todo o desenho dessa cena é impecável, com um destaque especial para a morte do touro (?), que acompanhada da melodia de Gustavo Santaolalla consegue ser a melhor, e mais bela, cena de todo o filme.
Vale ressaltar que caso o espectador esteja acostumado com piadas e trocadilhos feitos, geralmente, pelos estúdios DreamWorks, talvez, essa não seja uma boa experiência para você, já que a quantidade dos mesmos é bem inferior, quase que inexistente no filme todo.
Mesmo que a narrativa peque sendo constantemente previsível, cheia de clichês e, em certo ponto, até mesmo acelerada – como a chegada à Terra dos Lembrados – fazendo com que o espectador perca em certos momentos o interesse pelo filme, o que é logo superado, esta apresenta-se muito bem entrelaçada. Os personagens foram, certamente, muito bem construídos. Podemos dizer que Maria é a representação da mulher atual, forte, inteligente, objetiva, independente; Manolo representa o artista e tudo o que isso implica, mudança de pensamento, sentimentos sobrepostos a razão;
No entanto, os personagens que mais se destacam e de fato trazem uma certa inovação é La Muerte e Xibalba. Brilhantemente, a relação entre os dois é a contraposição do bem e do mal. Na verdade, não se tem marcado o tempo todo “o Xibalba é mal” e a “La Muerte é boa”, pelo contrário, ambos são os dois: ora mal, ora bom. Pode-se dizer que é uma referência direta ao homem, ninguém é bom o tempo todo, assim como ninguém é mal o tempo todo e o fato desses personagens serem um casal deixa isso mais evidente.  De uma forma sútil, o filme mostra que viver é conviver com os erros – se preferir – com as maldades e as bondades de cada um. É enfrentar os desafios propostos pela vida, sem nunca parar de tocar com o coração ou deixar de lutar por aquilo que é certo, para assim, um dia alcançar a Terra dos lembrados e nunca ser esquecido.

Pássaro Branco na Nevasca (2014)
Unknown15:21 0 comentários

O filme Pássaro Branco na Nevasca, baseado no livro “White Bird in a Blizzard”, da escritora Laura Kasischke, conta a história de uma família aparentemente comum (uma mãe, um pai e uma filha). No entanto, ao longo do filme, descobrimos que nenhum personagem é normal. A trama é desencadeada quando a mãe Eve Connors (Eva Green) abandona sua família, causando uma grande desordem. Assim, com o passar do tempo, Kat (Shailene Woodley) e seu pai Brock (Christopher Meloni), percebem que Eve não irá voltar e tentam seguir a vida.
Ao assistirmos o trailer do filme pensamos que se trata de um suspense ruim com várias cenas de sexo barato e uma atriz –Eva Green- com cara de louca. No entanto, temos uma bela surpresa ao vermos o longa. A trama é muito bem desencadeada e consegue manter o suspense, com direito a um final surpreendente. Além disso, o suspense é bem mantido pela boa atuação e pela montagem das cenas. Na verdade, os atores fazem muito bem seus papeis, destacando –logicamente- Eva Green.
As tomadas do diretor Gregg Araki são muito boas e consegue manter bem a adaptação. A montagem do filme é feita basicamente por meio de voz off e flash back. O clima de Pássaro Branco na Nevasca é mantido pela narração (voz off) de Kat, que passa a fazer terapias e conta parte de sua vida para a terapeuta.

Ainda sobre a parte técnica. A fotografia é muito bonita, principalmente nas cenas em que Kat começa a ter sonhos estranhos com sua mãe. Esses sonhos se passam na neve e ao longo do filme percebemos que o diretor faz uso do branco e das cores frias.
Por fim, não é uma grande obra-prima, mas podemos dizer que tem uma boa produção e mexe com o psicológico do espectador. De forma geral, o filme é bom e vale a pena ser visto. É difícil quem não se surpreende no final, por isso, ASSISTA e perceba quão conspiradora é sua mente!

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

A Onda / Die Welle (2008)
Yasmin Farias16:10 0 comentários





          A ditadura da Alemanha deixou de ser possível? Em pleno seculo XXI seria possível uma ditadura entre nós? A Alemanha nazista poderia voltar a existir? Difícil acreditar nisso não é mesmo? Depois de tudo que os alemães e o mundo todo passou, depois de testemunharmos uma das maiores atrocidades já cometidas por uma ideologia absurda, seria difícil imaginar que isso poderia vir a ocorrer novamente. 
          É o que uma turma de estudantes alemães alegam para seu professor quando ele faz essas perguntas. Dada as respostas, o professor decide fazer um experimento com seus alunos. Como foi possível a ditadura de Hitler? E mais: ela poderia se repetir hoje em dia?
          O filme Die Welle (A Onda) é inspirado no livro "The Wave" do autor americano Todd Strasser e no experimento social da Terceira Onda em uma escola de ensino médio em Palo Alto, na Califórnia. Durante uma semana de projeto da escola, o professor Rainer Wenger (Jürgen Vogel) é forçado a ensinar autocracia, mesmo depois de ter pedido para ficar com as aulas de anarquia. A Onda vai abordar uma condição em classe que vai transtornar a vida de seus alunos e criar um assombro na comunidade local.
          Durante esse projeto ele começa exigindo que todos os alunos se refiram a ele como "Herr Wenger" (Senhor Wenger). A classe elege um líder (o professor) e ele começa a incutir nos alunos (apenas como exemplo) as virtudes e práticas que acompanham uma autocracia "Força através da disciplina" e "Trabalho como um só". Os alunos logo tornam-se obcecados com isso. Logo, o que era uma experiência de sala de aula simples cresce a uma entidade social.
          Rainer então sugere que todos do grupo devem vestir uma camisa branca e calças jeans, para que não haja mais distinções entre eles. Karo (Jennifer Ulrich) que ao longo da história será uma das alunas que lutam contra o movimento, vem à aula usando uma camiseta vermelha, e descobre ser a única a não aderir ao uniforme. Outro aluno, Tim (Frederick Lau) é um dos que mais se envolve com a ideia, pois pela primeira vez ele se sente aceito em um grupo. Ele queima todas as suas roupas de marca e mais tarde aparece na casa de Rainer, oferecendo-se para ser seu guarda-costas.
          Herr Wenger atrai seus alunos desavisados a um senso de fascismo, dá um
poderoso desempenho como professor idealista que não tem conhecimento da influência que ele tem sobre os outros. Nós mesmo nos sentimos arrastados para o filme da mesma forma que os alunos de Rainer estavam sendo atraídos para seu "experimento". O drama se desenrola de forma relativamente lenta no início, mas vai ganhando ímpeto e conseqüências. Há também um retrato comovente de algumas das tensões produzidas dentro de alguns dos pares românticos, bem como a extrema angústia causada em um aluno, Marco (Max Riemelt) por sua suscetibilidade. 
          O experimento escolar aos poucos começa a se parecer com o passado da Alemanha, a ironia mordaz deste filme é que no início das aulas de autocracia, Wenger tocou no assunto do reinado de Hitler, e os alunos quase instintivamente cuspiram respostas sobre como a Alemanha nunca cairia nessa armadilha novamente. A situação acabou saindo do controle, o que de início era apenas uma brincadeira aparentemente inocente, ganhou traços de seriedade e afetou profundamente a vida daquelas pessoas. O professor avesso ao que acontecia fora da sala de aula, sua ânsia em ser encarecido, seu ego diante os outros professores o cegaram e ele não se deu conta disso.
          É um filme impactante, nos mostra como até uma grande massa pode ser manipulada, pode ser moldada e explorada. A alma do fascismo estava apoiada na sedução e na psicologia, e por isso muitas pessoas acabaram envolvidas no regime
totalitário. Esse é o tema central do filme. Com a grande atuação de seu jovem elenco, o filme canoniza as qualidades de um regime ditador, mas também nos leva a suas piores consequências.
          Em sua trajetória, Die Welle ganhou dois prêmios e foi indicado a outros seis. Uma coisa deve ser deixada clara, trata-se de um filme alemão, e com estilo pois Die Welle é um exemplo desse novíssimo cinema, que prima historias autenticas, temáticas
contemporâneas e tratadas de forma crítica. O cinema alemão é um dos melhores do
mercado, o diretor Dennis Gansel nos demostra isso com esmero. 








sábado, 3 de janeiro de 2015

Incêndios (2010)
Yasmin Farias07:54 1 comentários






       
           Adaptado da aclamada peça de Wajdi Mouawad, "Incendies" é um filme canadense de 2010 falado em francês, que concorreu ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Conta uma comovente história, em que os gêmeos Simon (Maxim Gaudette) e Jeanne (Mélissa Désormeaux-Poulin) após a morte da mãe Nawal Marwan (Lubna Azabal) recebem o testamento deixado por ela, cujo último desejo é que eles partam numa jornada pelo Oriente Médio em busca de respostas sobre o paradeiro de seu pai, até então morto, e de seu irmão nunca mencionado. Os filhos de imediato reagem de maneiras diferentes, Jeanne quer realizar o desejo da mãe, porém Simon quer enterrar tudo isso com ela.
          O longa é narrado em dois tempos, presente e passado. À medida que adentramos nas raízes da família Marwan, vamos conhecendo a conturbada história do Líbano, o passado misterioso de Nawal se mistura com o do país, uma dolorosa e brutal guerra civil que vem destroçando e instalando-se no Líbano desde os anos 60.
        É um filme politizado filmado na Jordânia, que em sua superfície parece uma história detetivesca tratando-se apenas das guerras religiosas da década de 60 e seus refugiados, mas se olharmos mais a fundo, veremos um filme globalizado, que fala também sobre os filhos desses imigrantes, que não conhecem a cultura do país de origem, não falam a língua dos avós e muitas vezes buscam ou se perguntam sobre suas identidades, é mais uma amarga marca da guerra e de seus rastros.
        Por a trama ser cheia de revelações, podemos perdoar os atalhos e muitas coincidências que o diretor e roteirista Denis Villeneuve fez uso. Sobre o título talvez tenha esse nome pelo fato de aparecer vários incêndios durante o filme, ou talvez seja apenas uma analogia aos conflitos e a guerra. Sobre o final, é definitivamente atordoante e doloroso, do tipo que você se pega com a mão na boca de tão chocado.
         O longa nos mostra um drama surpreendente, porém não devemos nos esquecer de que mesmo este se tratando de uma ficção, é apenas um exemplo de muitas outra trágicas histórias acometidas pela guerra. Que o filme nos deixe o lembrete dos horrores dela.